A culpa é do PT?
Atualizado: 21 de Out de 2020
Por Jorge Almicar e Fabio Maia

A palavra de ordem "A culpa é do PT!" vem sendo muito presente nas narrativas elaboradas ao longo dos últimos 6 anos, principalmente a partir da suspensão da então presidente Dilma Rousseff em 2015 e de seu consequente impedimento em 2016. A partir da campanha presidencialista de 2018 essa narrativa foi totalmente incorporada pela extrema-direita brasileira representada pelo então candidato e agora presidente Jair Bolsonaro, narrativa que se acoplada ao já desbotado discurso do mal maior e da ameaça comunista, numa espécie de marcartismo tupiniquim, colocando o Partido dos Trabalhadores no epicentro dos ataques, reforçando assim a narrativa em questão.
Mas dessa vez penso que a palavra de ordem "A culpa é do PT!" faz algum sentido. Por dois motivos centrais que reverberam em alguns outros secundários: 1. A figura de "ser incorruptível" de Moro está diretamente ligada à sua atuação como Juiz da "Operação Lava-jato", atuação essa no mínimo controversa se considerarmos que a imparcialidade nunca esteve em jogo, fato amplamente denunciado pelo conjunto de reportagens do The Intercept Brasil, apelidado de "Vaza-jato", que para a ala dura do governo e de seus apoiadores mais fiéis era uma marca de qualidade "antipetista" e que, na linha maquiavélica dos fins justificarem os meios, garantiram seu posto no governo e sua imagem intocada frente aos bolsonaristas; 2. Foi nos governos do PT que a autonomia e a liberdade de ação da Polícia Federal tornaram-se de fato prática comum, como afirmou o próprio ex-Ministro Sérgio Moro em seu pedido público de demissão, esse fato fica evidente em dois grandes processos que resultaram em investigações e prisões no âmbito do próprio governo federal durante os governos do PT, foram elas o "Mensalão" durante o Governo Lula e o caso investigado pela "Lava-jato", que mesmo com todas as evidências de uso político da operação, nunca sofreram interferência dos Governos.
Desde 2003, quando o PT assumiu o poder, todos os procuradores gerais da República nomeados estavam na lista tríplice, lista com os três mais votados entre os procuradores da República. Desta maneira respeitando a independência do órgão. Jair Bolsonaro enterra essa prática genuinamente republicana ao nomear o procurador Augusto Aras, o nomeado pelo atual presidente ficou apenas em sétimo lugar na votação. Justamente para ter um procurador que engavetasse qualquer ação contra o mesmo. Assim, ao quebrar a tradição da lista tríplice, agia com o objetivo de ter um procurador geral a serviço do presidente e não do país.
Outra ação do presidente para aparelhar as instituições republicanas foi a tentativa de "clonar" a Agência Brasileira de Inteligência e colocar o "clone" a seu serviço. Carlos Bolsoanro tentou emplacar a criação de uma Abin paralela para espionar os adversários políticos. Ou seja, um órgão de espionagem de Estado a serviço de uma família. Nem os bolsonaristas mais aloprados toparam a aventura da Abin do Bolsonaro.
Assim como no atual governo, o governo Temer também empreendeu ações nesse sentido, antes dos Governos do PT, também não é difícil encontrar casos de interferência direta ou indireta da presidência da República no Ministério Público e na Polícia Federal. Mesmo se considerarmos apenas o período pós-redemocratização.
Então caros bolsonaristas, gritem em alto e bom som: "A culpa é do PT!", dessa vez vocês terão alguma razão.
